F. William Engdahl
INTRODUÇÃO
Passaram menos de dois decénios
desde o colapso da União Soviética e o fim de um mundo polarizado durante
décadas, por duas superpotências militares opostas. No final de 1989, a
Alemanha Comunista de Leste e a República Democrática Alemã, como era
conhecida, começaram a romper as barreiras do controlo soviético e, em Novembro
daquele ano, o tão odiado Muro de Berlim estava a ser derrubado, pedra por
pedra. As pessoas dançavam sobre o muro, celebrando o que acreditavam ser uma
nova liberdade, o paraíso da "American Way of Life".
O colapso da União Soviética era
inevitável no final da década de 1980. A economia tinha sido literalmente
sangrada até ao osso, a fim de alimentar uma corrida armamentista sem fim, com o
seu rival máximo e oponente da Guerra Fria, os Estados Unidos. No final de
1989, a liderança soviética era suficientemente pragmática para eliminar os
últimos vestígios da ideologia marxista e erguer a bandeira branca da rendição.
O “capitalismo do mercado livre” conquistou o "socialismo de Estado.”
O colapso da União Soviética
originou júbilo em toda a parte, com excepção da Casa Branca, onde,
inicialmente, o Presidente George H. W. Bush reagiu em pânico. Talvez não
tivesse a certeza da maneira como os Estados Unidos continuariam a justificar a
sua enorme despesa com armamentos e o seu enorme aparato de serviços secretos/inteligência
- desde a CIA até a NSA, a Agência de Inteligência de Defesa e outras mais -
sem um inimigo soviético. George H.W. Bush era um produto e um perito do
National Security State da Guerra Fria. O seu mundo era de ‘imagens inimigas’,
espionagem e secretismo, em que as pessoas se esquivavam, frequentemente, da
Constituição dos Estados Unidos quando a ‘segurança nacional’ estava envolvida.
À sua maneira, era um Estado dentro do Estado, um mundo tão central e
controlado quanto a União Soviética, apenas com conglomerados de defesa e energia
multinacionais privados e organizações de coordenação, em vez do Politburo
soviético. Os seus contratos militares ligavam cada parte da economia dos
Estados Unidos ao futuro dessa máquina de guerra permanente.
Para os segmentos do ‘establishment’
norte-americano, cujo poder cresceu exponencialmente com a expansão da Segurança
Nacional do Estado, após a Segunda Guerra Mundial, o fim da Guerra Fria
significou a perda da sua razão de existir.
Como o único poder hegemónico
restante após o colapso da União Soviética, os Estados Unidos depararam-se com
duas maneiras possíveis de lidar com a nova realidade geopolítica russa.
Poderia ter sinalizado cautelosa,
mas claramente, a abertura de uma nova era de cooperação política e económica,
com o seu antigo adversário da Guerra Fria, fragmentado e economicamente
devastado.
O Ocidente, liderado pelos
Estados Unidos, poderia ter encorajado a desanuviação mútua do equilíbrio
nuclear de terror da Guerra Fria e a conversão da indústria - tanto ocidental
como oriental - em empreendimentos civis para reconstruir a infraestrutura
civil e restaurar as cidades empobrecidas.
Os
Estados Unidos tinham a opção de desmantelar gradualmente a NATO, assim como a
Rússia dissolveu o Pacto de Varsóvia, e promover um clima de cooperação económica
mútua que poderia transformar a Eurásia numa das zonas económicas mais
prósperas e florescentes do mundo.
No
entanto, Washington escolheu outro caminho para lidar com o fim da Guerra Fria. O
caminho poderia ser compreendido apenas a partir da lógica interna de sua
agenda global - uma agenda geopolítica. A
única Superpotência que restou escolheu o secretismo, o engano, as mentiras e as
guerras para tentar controlar pela força militar, o coração da Eurásia – o seu
único rival potencial como região económica.
Mantido em segredo da maioria
dos americanos, por George H.W. Bush e pelo seu amigo e protegido de facto, o Presidente
democrata Bill Clinton, a realidade foi que para a facção que controlava o
Pentágono - a indústria de defesa militar, as suas inúmeras empresas subcontratadas
e companhias gigantes de petróleo e serviços ligados ao petróleo, como a
Halliburton - a Guerra Fria nunca terminou.
A “nova” Guerra Fria assumiu
vários disfarces e tácticas enganosas até 11 de Setembro de 2001. Esses eventos
permitiram que um Presidente americano declarasse guerra permanente contra um
inimigo que estava em toda parte e em nenhum lugar e que, alegadamente,
ameaçava o modo de vida americano, justificando leis que destruíram esse modo
de vida, em nome da nova Guerra mundial contra o Terror. Resumindo, Osama bin Laden
foi a resposta a uma prece do Pentágono, em Setembro de 2001.
O
que poucos sabiam, em grande parte porque a comunicação mediática nacional
responsável, recusou dizer-lhes, foi que, desde a queda do Muro
de Berlim, em Novembro de 1989, o
Pentágono vinha a seguir, passo a passo, uma estratégia militar para dominar o
planeta inteiro, um objectivo que nenhuma grande potência anterior jamais
alcançara, ou pensou que poderia tentar. Foi designado pelo Pentágono como
"Domínio Total do Espectro" e, como o próprio nome indicava, a sua
agenda/programa era controlar tudo, em todos os lugares, incluindo no alto mar,
na terra, no ar, no espaço e até mesmo no espaço cibernético.
Essa agenda foi seguida ao longo
de décadas em escala muito menor, com golpes apoiados pela CIA em países
estratégicos como Irão, Guatemala, Brasil, Vietnam, Gana e Congo Belga. Agora,
o fim de uma superpotência, a União Soviética, significava que a meta poderia
ser, efectivamente, cumprida sem oposição.
Já em 1939, um pequeno círculo
de especialistas de elite foi convocado, sob o mais alto sigilo, por uma
organização privada de política externa, o Conselho de Relações Exteriores de
Nova York. Com fundos generosos da Fundação Rockefeller, o grupo começou a
mapear os detalhes de um mundo pós-guerra. De acordo com a sua opinião, uma
nova guerra mundial estava prestes a acontecer e, das suas cinzas, apenas um
país sairia vitorioso - os Estados Unidos.
A
sua tarefa, como alguns dos membros mais tarde descreveram, era estabelecer as
bases de um império americano do pós-guerra - mas sem chamá-lo assim. Foi um
logro astuto que inicialmente levou grande parte do mundo a acreditar nas
alegações americanas de apoio à ‘liberdade e democracia’ em todo o mundo. Em
2003, acontece a invasão do Iraque pela Administração Bush, baseada na
afirmação falsa e ilegalmente irrelevante, de que Saddam Hussein possuía armas
de destruição em massa, essa mentira estava a esgotar-se.
Qual era a verdadeira agenda das
incansáveis guerras do Pentágono? Era, como alguns sugeriram, uma estratégia
para controlar as grandes reservas de petróleo numa era futura de escassez? Ou
havia uma agenda muito diferente, mais grandiosa, por trás da estratégia dos
EUA desde o fim da Guerra Fria?
O teste decisivo para saber se a
agenda militar agressiva das duas administrações de Bush era uma extrema
aberração da política militar estrangeira americana, ou, pelo contrário, no
coração de sua agenda de longo prazo, estava a presidência de Barack Obama.
As indicações iniciais não eram
optimistas para aqueles que esperavam a tão desejada mudança. Como presidente,
Obama escolheu um amigo íntimo da família Bush de longa data, o antigo Director
da CIA e Secretário da Defesa, Robert Gates, para dirigir o Pentágono. Escolheu
como chefe do Conselho de Segurança Nacional e Director da National
Intelligence/Serviços Secretos Nacionais, militares de carreira de longa data e
o seu primeiro acto como Presidente, foi anunciar o empenho em aumentar as
tropas no Afeganistão.
F. William Engdahl – Abril, 2009
A seguir:
CAPÍTULO UM
Guerra na Georgia -- Putin deixa cair uma bomba
Armas
de Agosto e Um Desses Números Engraçados
CONVITE PARA A CONVENÇÃO INTERNACIONAL
DO 70º ANIVERSÁRIO DA NATO
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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