ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE
CAPÍTULO
SETE - Completo
A Obsessão Nuclear de Washington
A Defesa anti-mísseis é o elo que faltava
para um ‘First Strike’.
- Tenente Coronel Robert Bowman, antigo Director do Programa de Defesa Contra
Mísseis dos EUA (1)
A Persistência Secreta da Supremacia
Nuclear
O
que Washington não disse, mas Putin mencionou no seu discurso de Fevereiro de
2007, em Munique, foi que a defesa anti-mísseis dos EUA não era de modo algum
defensiva. Era ofensiva em extremo.
Se
os Estados Unidos pudessem proteger-se, efectivamente,
de uma potencial retaliação russa a um primeiro ataque nuclear dos EUA, então
os EUA seriam capazes de impor as suas condições ao mundo inteiro, não só à
Rússia. Isso seria a supremacia nuclear. Era esse, o verdadeiro significado do
discurso invulgar de Putin. Ele não era paranóico. Estava a ser totalmente
realista.
Agora
estava ficar claro que, mesmo após o final da Guerra Fria, em 1989, o governo
dos EUA não tinha parado, nem por um
momento, o seu esforço para obter a Supremacia Nuclear. Para Washington e para as suas
elites financeiras e políticas, a Guerra Fria nunca terminou. Simplesmente,
esqueceram-se de contar ao resto do mundo.
A
tentativa dos EUA de controlar as condutas de óleo e energia em todo o mundo, a
instalação de bases militares na Eurásia, a modernização e a actualização das
frotas de submarinos nucleares e os comandos estratégicos de bombardeiros B-52
só faziam sentido quando analisados através da perspectiva da procura incansável
dos EUA para conquistar a Supremacia Nuclear.
Em
Dezembro de 2001, a Administração Bush anunciou a sua decisão de se retirar,
unilateralmente, do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos EUA-Rússia. Foi um passo
crítico na corrida de Washington para concluir a sua rede global de capacidade
de 'defesa anti-mísseis' como o fundamento para a Supremacia Nuclear dos EUA.
Na
sua busca pela Supremacia Nuclear, Washington violou, simplesmente, as suas
obrigações relativas aos tratados internacionais porque essas grandes
quantidades acumuladas de mísseis tinham sido explicitamente proibidas por eles.
Ao revogar o Tratado ABM por Ordem Executiva, o Presidente também usurpou os
poderes concedidos pela Constituição dos Estados Unidos ao Congresso.
Sinistramente, na histeria nacional após o 11 de Setembro, dificilmente houve
um pio de protesto do Congresso.
De
acordo com o ‘The New York Times’, o
uso do Espaço para instalação de armas direccionadas à Terra ou armas guiadas
do Espaço, já era uma realidade em 2001: “Os planeadores de guerra conceberam
inúmeras armas novas e emocionantes”, referia o artigo cheio de entusiasmo.
Falar sobre essas armas não é uma conversa
que os militares queiram ter em público, dado o debate macabro sobre o escudo
de mísseis, mas é o assunto que eles têm em privado, há algum tempo.(2)
Provas
das ambições globais ininterruptas por parte das Forças Armadas dos EUA podiam
ser encontradas num “estudo futuro” encomendado em 1995-96, pelo Chefe do
Estado-Maior da Força Aérea dos EUA. O relatório, Air Force 2025/Força Aérea 2025, era uma elaboração maciça em quatro volumes, de centenas de sistemas
de armas espaciais super sofisticadas e tecnologicamente avançadas, destinadas
a fornecer aos Estados Unidos, capacidades de apoio ao combate global, no Espaço.
Esses foram considerados os sistemas necessários para os EUA "permanecerem
a força aérea e espacial dominante no futuro" (3), como parte integrante
da estratégia de Domínio do Espectro Total do Pentágono.
Uma das armas, por exemplo, era um “canhão laser” no Espaço, descrito de maneira
arrepiante, como se segue:
Atacaria com sucesso alvos
terrestres ou aéreos, derretendo ou quebrando os velames da cabine, queimando
através de cabos de controlo, explodindo tanques de combustível, derretendo ou
queimando conjuntos de sensores e conjuntos de antenas, explodindo ou derretendo
cápsulas de munições, destruindo comunicações terrestres e redes eléctricas e
derretendo ou queimando uma grande variedade de alvos estratégicos (por
exemplo, barragens, instalações industriais e de defesa e fábricas de munições)
- tudo numa fracção de segundos.(4)
Outra
secção da Força Aérea 2025 descrevia pequenos projécteis de metal disparados
contra a Terra, a partir do Espaço. Essas "flechettes" poderiam
penetrar na Terra a uma profundidade de 800 metros, destruindo alvos como
bunkers subterrâneos.(5)
Apesar
das advertências e isenções de responsabilidade de que o Relatório não
representava as opiniões dos Estados Unidos ou do seu Departamento de Defesa,
ou mesmo da Força Aérea, o mesmo tinha sido autorizado nas mais altas fileiras
do Pentágono.
O
Dr. Robert Bowman, Tenente Coronel aposentado da Força Aérea dos EUA, que dirigiu
os primeiros esforços da defesa anti-míssil do Governo dos EUA, quando ainda
era extremamente secreto, observou:
[Eles]
reproduzem os resultados dos estudos que realizamos nos na década de 1970 e
início dos anos 80. A diferença é que, então, consideramos os resultados, razão
suficiente para continuar a nossa política nacional de manter as armas no
Espaço, enquanto agora levam os falcões da guerra a descartar as restrições do
Tratado e a continuar uma forma ainda mais total de superioridade militar
absoluta. O primeiro orçamento de Bush quadruplicou as despesas em estações de
batalha laser. No seu novo orçamento, ele dá aos guerreiros espaciais um cheque
essencialmente em branco. Agora, ele mais uma vez renomeou e reorganizou o
departamento do Pentágono que faz 'A Guerra das Estrelas'.
Sob Reagan e Bush I, era a Organização de
Iniciativa de Defesa Estratégica (SDIO). Sob Clinton, tornou-se a Organização
de Defesa contra Mísseis Balísticos (BMDO). Agora, Bush II converteu-a em
Agência de Defesa contra Mísseis (MDA) e libertou-a da supervisão e da
auditoria anteriormente desfrutadas apenas pelos projectos negros. Se o Congresso não agir logo, esta nova
agência independente poderá pegar no seu orçamento essencialmente ilimitado e
gastá-lo fora do escrutínio público e do Congresso em armas sobre as quais não
saberemos nada até que estejam no Espaço. Então, em teoria, os guerreiros
espaciais governariam o mundo, capazes de destruir qualquer alvo na Terra sem
aviso prévio.
Estas novas super armas trarão segurança
ao povo americano? Dificilmente.(6)
NMD – ‘O Elo que Faltava para
um Primeiro Ataque’
Mesmo
com um escudo de defesa anti-mísseis primitivo, os EUA poderiam atacar silos de
mísseis russos e frotas submarinas com menos medo de retaliação efectiva; os
poucos mísseis nucleares russos restantes seriam incapazes de lançar uma resposta
suficientemente destrutiva.
Durante
a Guerra Fria, a capacidade de ambos os lados - o Pacto de Varsóvia e a NATO -
de se aniquilarem mutuamente, levou a um impasse nuclear apelidado por estrategas
militares, MAD - Destruição Mutuamente Assegurada. Era assustador, mas, num
sentido bizarro, mais estável do que o que viria mais tarde com a procura
unilateral dos EUA da supremacia nuclear. O MAD era baseado na perspectiva de
aniquilação nuclear mútua, sem vantagem decisiva para nenhum dos lados; isto
conduziu a um mundo em que a guerra nuclear era ‘impensável’.
Agora,
os EUA estavam à procura da possibilidade de uma guerra nuclear como
'pensável'. Isso era real e
verdadeiramente 'louco/mad’.
O
primeiro país com um escudo de 'defesa' de mísseis nucleares (NMD) teria, de facto,
'capacidade de primeiro ataque'. Muito correctamente, o Tenente Coronel Bowman,
que tinha sido Director do Programa de Defesa de Mísseis da Força Aérea dos EUA,
durante a era Reagan, denominou a defesa anti-mísseis, como sendo “o elo que
faltava para um First Strike”. (7)
O
escudo de defesa contra mísseis nucleares dos EUA, que estava em
desenvolvimento ultra-secreto pelo Pentágono desde os anos 70, envolvia um
sistema terrestre que podia responder a um ataque limitado de mísseis. Havia
cinco partes no sistema NMD, incluindo instalações de radar por fases que
podiam detectar um lançamento de mísseis inimigos e localizá-los. Em teoria, logo
que os mísseis detectados fossem lançados e fossem confirmados a alvejar os
Estados Unidos ou de qualquer outro alvo específico, a próxima fase era accionar
um ou mais dos cem mísseis interceptores para destruir o míssil balístico
inimigo antes dele chegar espaço aéreo dos EUA.
A
comunicação mediática americana e os seus habituais comentadores políticos
permaneceram praticamente em silêncio sobre as implicações do esforço de
Washington para instalar a ‘defesa’ anti mísseis na Polónia e na República Checa,
ou sobre a sua ânsia generalizada sobre a Supremacia Nuclear.
A
história das negociações, muitas vezes secretas, com os governos da Polónia e
da República Checa para colocar mísseis controlados pelos EUA nesses dois
antigos países do Pacto de Varsóvia revelou a hipocrisia da política dos EUA,
em relação aos seus verdadeiros objectivos.
As
negociações de mísseis dos EUA com Varsóvia e Praga começaram no final de 2003,
apenas alguns meses após a queda de Bagdad, segundo fontes do governo polaco.
Em
13 de Julho de 2004, o jornal Guardian
informou que altos funcionários em Praga, confirmaram as negociações
EUA-Polónia/República Checa. O mesmo jornal revelou que estavam em andamento
negociações sobre o estabelecimento de estações de radar avançadas americanas na
República Checa, como parte do projecto do escudo anti-mísseis. “Estamos muito
interessados em fazermos parte concreta do acordo”, disse Boguslaw Majewski,
porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Polónia. “Temos
discutido esta questão com os americanos desde o final do ano passado.” (8)
Outras
fontes em Varsóvia disseram ao Guardian
que os oficiais do Pentágono estavam a observar as montanhas do sul da Polónia,
identificando locais adequados para duas ou três estações de radar ligadas ao programa
designado como “Filho da Guerra das Estrelas”.
Além
dos locais de radar, os polacos disseram que queriam hospedar um local de
interceptores de mísseis, um grande silo subterrâneo reforçado a partir do
qual, mísseis de longo alcance poderiam ser lançados para interceptar e
destruir foguetões.
De
acordo com os planos da Administração Bush, dois locais de interceptores de
mísseis estavam a ser construídos nos EUA - um na Califórnia e outro no Alasca.
O local na Polónia seria a primeira instalação desse tipo fora da América e a
única na Europa. Essa extensão notável e sem precedentes, da capacidade nuclear
dos EUA, passou praticamente desapercebida na comunicação mediática americana.
“Um local interceptor seria mais atraente. Não
seria difícil vender na Polónia”, comentou Janusz Onyszkiewicz, antigo Ministro
da Defesa polaco. Mas outros exprimiram uma preocupação maior. “ Sabia sobre
possíveis locais de radar, mas fiquei surpreendido ao ouvir falar sobre silos
de mísseis”, observou outro observador de Varsóvia.(9)
Claramente,
o Ministro da Defesa polaco mais envolvido - pelo menos até Fevereiro de 2007 -
na negociação da colocação de mísseis americanos provocadores na Polónia, foi
Radek Sikorski. Pouco depois, Sikorski tornou-se Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Sikorski, 44 anos, frequentou o Pembroke College de Oxford, em Inglaterra e, em
1984, tinha-se tornado cidadão britânico naturalizado. Também era um
neoconservador polaco cauteloso, que havia regressado à Polónia para fazer
avançar a agenda dos falcões neoconservadores de Washington.
A
carreira anglo-americana de Sikorski decolou em 1990, após o colapso do
comunismo. Foi então protegido pelo financeiro neoconservador, Rupert Murdoch,
o poderoso bilionário proprietário do London
Times, do tablóide Sun e da rede
neoconservadora agressiva da Fox TV, nos EUA. Sikorski aconselhou Murdoch nos
“investimentos” feitos pelo mesmo Murdoch, na Polónia.
Apesar
de ser detentor de cidadania britânica, Sikorski foi nomeado para vários cargos
no governo polaco, incluindo de Ministro Adjunto da Defesa, e em 2002,
atravessou o Atlântico para um cargo em Washington – para trabalhar com o
neoconservador 'Príncipe das Trevas', Richard Perle. Sikorski tornou-se um
Resident Fellow no American Enterprise Institute (AEI), em que Perle garantiu a
promoção de Sikorsi a Director executivo da New Atlantic Initiative. A partir
daí, Sikorski regressou à Polónia como Ministro da Defesa Nacional, em 2005.(10)
O
mais notável da carreira fulgurante de Sikorski foi que, como Director Executivo
da Iniciativa do Novo Atlântico (AEI’s New Atlantic Initiative), preparou documentos
políticos sobre a NATO e sobre a defesa anti-mísseis, ou seja, a NMD. As
instalações de defesa anti-mísseis do Pentágono nos perímetros da Rússia, em
2006, instalaram o projecto que os amigos de Sikorski, em Washington, tinham
formulado alguns anos antes. (11)
A
infraestrutura de mísseis dos EUA na Europa Oriental era, de longe, a empresa
mais imprudente de uma cabala que já havia demonstrado a sua tendência para uma
perversidade perigosa e tola. A construção a ser efectuada pelos EUA, de
“defesas” de mísseis na Polónia e na República Checa, incluiria silos de
mísseis a poucos minutos de possíveis alvos russos. Ninguém seria capaz de
dizer se continham mísseis nucleares americanos ou não. Esta medida, na
verdade, colocaria o mundo num estado de reacção imediata ao mínimo estímulo,
para uma possível guerra nuclear por intenção ou erro de cálculo, muito mais
perigosa do que a decisão da NATO, de 1980, de instalar mísseis Pershing
(nucleares) na Europa Ocidental.
Fazia
recordar o documento que se tornou o plano estratégico da defesa e da política
externa depois de George W. Bush entrar na Casa Branca, em Janeiro de 2001:
Reconstruindo as Defesas da América, o relatório de Setembro de 2000, da
fortaleza neoconservadora, o Projecto para o Novo Americano. Século(PNAC).
O
documento da estratégia do PNAC declarava:
Os Estados Unidos devem desenvolver e
instalar defesas globais de mísseis para defender a pátria e os aliados
americanos e fornecer uma base segura para a projecção do poder dos EUA em todo
o mundo.(12)
Antes
de se tornar Secretário da Defesa de Bush, em Janeiro de 2001, Rumsfeld também
chefiara uma Comissão Presidencial que defendia o desenvolvimento de defesa
anti-mísseis para os Estados Unidos, além de participar no projecto PNAC.(13)
A
Administração Bush-Cheney estava tão ansiosa por avançar os seus planos de
defesa anti-mísseis, que o Presidente e o Secretário da Defesa Rumsfeld
renunciaram aos requisitos de testes operacionais habituais necessários para
determinar se os sistemas altamente complexos eram eficazes.
O
programa de defesa anti-mísseis de Rumsfeld foi fortemente contrariado dentro do
comando militar. Em 26 de Março de 2004, nada menos de 49 generais e almirantes
dos EUA, incluindo o Almirante William J. Crowe, antigo Presidente do
Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, assinaram uma Carta Aberta ao
Presidente, apelando ao adiamento da defesa anti-mísseis. Nessa carta aberta,
eles apontaram, explicitamente:
A tecnologia dos EUA, já instalada, pode
identificar a fonte de um lançamento de míssil balístico. Portanto, é altamente
improvável que qualquer Estado se atreva a atacar os EUA ou permita que um
terrorista o faça, a partir de seu território, com um míssil armado com uma
arma de destruição em massa, arriscando assim a aniquilação devido a um ataque
de retaliação devastador dos EUA.
Como dito por si, Sr. Presidente, a nossa maior
prioridade é impedir que terroristas adquiram e empreguem armas de destruição
em massa. Concordamos. Por esta razão, recomendamos, como linha de conduta de uma acção militarmente
responsável, que adie a instalação operacional do sistema GMD (Ground-Missile
Defense), caro e não testado, e transfira o financiamento associado para
programas acelerados a fim de proteger as múltiplas instalações que contêm
armas e materiais nucleares e proteger os nossos portos e fronteiras contra
terroristas que possam tentar contrabandear armas de destruição em massa para
os Estados Unidos.(14)
Preparando
o ‘First Strike’ Nuclear
O que os oficiais militares
experientes não disseram foi que, Rumsfeld, Cheney, Bush e companhia tinham uma
agenda bem diferente em mente, para além de ameaças terroristas desonestas.
Eles estavam atrás do Domínio do Espectro Total, da Nova Ordem Mundial e da
eliminação da Rússia, de uma vez por todas, como uma potencial rival do poder.
A
pressa dos EUA em instalar um escudo de defesa anti-mísseis não visava,
claramente, os ataques terroristas da
Coreia do Norte ou do Médio Oriente. Era destinado à Rússia. Destinava-se
também, em menor grau, às capacidades nucleares muito menores da China. Como
observaram os 49 generais e almirantes na sua carta ao Presidente, em 2004, os
EUA já tinham ogivas nucleares mais do que suficientes para atingir mil bunkers
ou cavernas de qualquer estado desonesto em potencial ou um Osama bin Laden.
Dois
analistas militares dos EUA chegaram à mesma conclusão sinistra. Escrevendo em Foreign Affairs, revista do Council on
Foreign Relations, em Março de 2006, eles observaram:
Se a modernização nuclear dos Estados Unidos
fosse realmente direccionada a estados desonestos ou terroristas, a força
nuclear do país não precisaria das milhares de ogivas adicionais que obterá com
o programa de modernização do W-76. Por outras palavras, a actual e futura
força nuclear dos EUA, parece projectada para realizar um ataque de
desarmamento preventivo contra a Rússia ou contra a China.
Os
dois analistas de estratégia continuaram com o seu argumento:
. . . Hoje, pela primeira vez em quase 50
anos, os Estados Unidos estão perto de atingir a supremacia nuclear. Provavelmente
em breve será possível que os Estados Unidos destruam os arsenais nucleares de
longo alcance da Rússia ou da China com um ‘first strike’. Essa mudança
dramática no equilíbrio de energia nuclear decorre de uma série de melhorias
nos sistemas nucleares dos Estados Unidos, do declínio vertiginoso do arsenal
da Rússia e do ritmo glacial da modernização das forças nucleares da China. A
menos que as políticas de Washington mudem ou que Moscovo e Pequim tomem
medidas para aumentar o tamanho e a prontidão das suas forças, a Rússia e a
China - e o resto do mundo - viverão na sombra da supremacia nuclear dos EUA,
durante muitos anos.
Referindo-se
aos planos, novos e agressivos, de instalação do Pentágono para a defesa anti-mísseis,
Lieber e Press concluíram:
. .. [O] tipo de defesa de mísseis que os
Estados Unidos poderiam possivelmente instalar seria valioso principalmente num
contexto ofensivo, não defensivo - como um complemento da capacidade do
Primeiro Ataque dos EUA, e não como um escudo isolado. Se os Estados Unidos
lançassem um ataque nuclear contra a Rússia (ou contra a China), o país-alvo
ficaria com apenas um pequeno arsenal sobrevivente - se é que ficassem com
algum. Neste ponto, mesmo um sistema de defesa anti-mísseis relativamente
modesto ou ineficiente pode muito bem ser suficiente para proteger contra
quaisquer ataques de retaliação. . . .(15)
Esta
era a verdadeira agenda do Grande Jogo Eurasiático de Washington.
O
escudo de defesa anti-mísseis agressivo do governo Bush para a Polónia e para a
República Checa causou enorme atrito nas relações entre os EUA e a Rússia,
tanto dentro da aliança da NATO, como directamente com a Rússia. O mundo
procurou descobrir se o Presidente Barack Obama poderia agir para diminuir as
tensões crescentes, oferecendo-se para reabrir as negociações com Moscovo,
sobre a colocação de mísseis.
A
decisão de Barack Obama de manter o Secretário republicano de Defesa, Robert
Gates, um defensor aberto do plano de defesa anti-mísseis de Bush, e de nomear o
General James Jones, um militar, para seu Conselheiro de Segurança Nacional não
era um bom presságio para qualquer reversão política. No início de 2009, o
mundo estava em rota de colisão com potenciais dimensões nucleares, quase duas
décadas depois do fim fictício da Guerra Fria.
Full Spectrum
Dominance/Domínio do Espectro Total
Para
compreender melhor a enormidade da projecção de poder militar dos EUA desde a
Guerra Fria, era necessário visualizar os planos agressivos da Defesa contra
Mísseis para a Europa Oriental, no contexto geral de mudanças dramáticas na
postura da força militar dos EUA e a instalação de bases militares desde os
anos 90.
A
estratégia militar oficial dos EUA tinha sido definida pela doutrina do
Pentágono como o Domínio do Espectro Total, da qual a “defesa de mísseis
balísticos” era um componente determinante. De acordo com declarações oficiais
do Pentágono, Full Spectrum Dominance, ou FSD, era:
O conceito abrangente para aplicar a força
hoje e fornecer uma visão para futuras operações conjuntas. Alcançar o FSD exige
que as Forças Armadas concentrem os seus esforços de transformação nas áreas
chave de capacidade que aumentam a aptidão da força conjunta para obter sucesso
em toda a gama de operações militares. O FSD requer capacidades militares
conjuntas, conceitos operacionais, conceitos funcionais e facilitadores
críticos adaptáveis a diversas condições e objectivos.
O FSD reconhece a necessidade de integrar as
actividades militares com as de outras agências governamentais, a importância
da ligação e funcionamento em conjunto com aliados e outros parceiros.(16)
O
Full Spectrum incluía a totalidade da Terra e do Espaço, até o ciberespaço.
Como o Pentágono declarou, entre as suas oito prioridades estava “Operar nos
Comuns (recursos culturais e naturais acessíveis a todos os membros de uma
sociedade : Espaço,
águas internacionais e espaço aéreo e ciberespaço”. (17)
O
desenvolvimento de um sistema operacional de defesa anti-mísseis dos EUA como
alta prioridade durante a Administração Bush foi bastante alarmante. Poucos
perceberam a dimensão adicional da instabilidade, na medida em que ela estava
interligada à ordem Top Secret (Ultra Secreta) do Secretário de Defesa das
Forças Armadas dos Estados Unidos para implementar algo chamado Conplan 8022,
“que fornece ao Presidente uma capacidade imediata de ataque global.” (18)
O
que significava que o ‘establishment’ dos Estados Unidos decidiu fazer da
guerra nuclear uma “opção”. Era um caminho perigoso a seguir, para dizer o
mínimo.
Endnotes:
1 Robert Bowman, Lt. Colonel, USAir
Force (Ret.), Statement made during a telephone interview with the author,
March 15, 2009. Bowman was Director of Advanced Space Programs Development for
the Air Force Space Division until 1978. In that capacity, he controlled about
half a billion dollars worth of space programs, including the "Star
Wars" programs, the existence of which was (at that time) secret.
1 Robert Bowman, Tenente Coronel, USAir Force (Aposentado),
Declaração feita durante uma entrevista por telefone com o autor, em 15 de
Março de 2009. Bowman foi Director do Desenvolvimento de Programas Espaciais
Avançados da Divisão Espacial da Força Aérea, até 1978. Nessa capacidade, ele
controlava cerca de meio bilião de dólares em programas espaciais, incluindo os
programas “Guerra das Estrelas”, cuja existência era (na época) secreta.
4 Air Force 2025, Vol. 13, Ch. 3,
“The Integrated Systems-of-Systems,” 21.
5 Ibid.
7 Robert Bowman, Lt. Colonel, US
Air Force (Ret.), Statement made during a telephone interview with the author,
March 15, 2009.
9 Ibid.
11 For a former Soviet official’s
view of the dangers of the Pershing missile deployment, see Yevgeny Primakov,
“ABM sites on Russia’s frontiers: Another Confrontation?” Moscow News, March 2,
2007.
13 Donald H. Rumsfeld, et al,
““Report of the Commission to Assess the Ballistic Missile Threat to the United
States,” Washington, D.C., July 15, 1998, accessed in http://www.fas.org/lrp/threat/missile/rumsfeld . See also Lt. Gen. Robert G. Gard and Kingston Reif
, Time To Rethink Missile Defense , Defense News, October 20, 2008. https://armscontrolcenter.org/1539/
17 Ibid.
18 Hans M Kristensen, Global
Strike: A Chronology of the Pentagon’s New Offensive Strike Plan, Federation of
American Scientists, Washington, D.C., March 2006, accessed in https://www.nukestrat.com/pubs/GlobalStrikeReport.pdf
A Seguir:
O Dr. Strangelove vive!
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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