ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE
CAPÍTULO SEIS - Completo
A História Curiosa da Guerra
das Estrelas
O anúncio da Casa Branca, em Outubro
de 2006, sobre uma nova política espacial nacional e as subsequentes
declarações do Departamento de Estado, levantam sérias preocupações sobre se já
começou um novo impulso para militarizar o Espaço.
- Richard C. Cook (1)
As Origens da Defesa Anti
Míssil dos EUA
O
programa dos EUA para construir uma rede global de “defesa” contra possíveis
ataques de mísseis balísticos, iniciou-se em 23 de Março de 1983, quando o
então Presidente Ronald Reagan propôs o programa popularmente conhecido como
“Guerra das Estrelas”, formalmente designado como Iniciativa de Defesa
Estratégica.
Em
1994, num jantar privado com este autor em Moscovo, o antigo chefe de estudos
económicos do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da União
Soviética, IMEMO, declarou que foram as enormes solicitações financeiras
exigidas pela Rússia para acompanhar o ritmo do esforço de vários biliões de
dólares, da “Guerra das Estrelas” que, finalmente, levou ao colapso económico
do Pacto de Varsóvia e, ironicamente, conduziu à reunificação alemã, em 1990.(2)
Esta
situação combinada com a perda de uma guerra no Afeganistão e o colapso das receitas
petrolíferas depois dos EUA inundarem os mercados mundiais com petróleo saudita,
em 1986, a economia militar da URSS não conseguiu acompanhar o ritmo, correndo
o risco de uma agitação civil em massa nos países do Pacto de Varsóvia.
A NASA e o Sigilo Militar
O ano de 1986
testemunhou o maior desastre que atingiu o programa espacial da NASA, nos
Estados Unidos, desde que foi lançado. A NASA foi criada como um projecto civil
pelo Presidente Dwight Eisenhower. Autorizada em 1958, pela Lei Nacional da
Aeronáutica e do Espaço, a NASA foi uma tentativa de mostrar ao mundo que a
ciência americana poderia superar o triunfo do Sputnik, na Rússia. O Presidente
decidiu deliberadamente manter as forças armadas fora da NASA, a fim de usar o
programa como um grande impulsionador da ciência civil para a economia em
geral. A lei declarava: “Por este meio, o Congresso declara que a política dos
Estados Unidos é que as actividades no Espaço sejam dedicadas a propósitos
pacíficos, para benefício da Humanidade” (3).
Então,
em 28 de Janeiro de 1986, o vaivem Espacial Challenger explodiu durante o voo,
matando todas as sete pessoas a bordo - seis astronautas e um professor. O
programa do vaivém da NASA tinha começado na década de 1970 para criar naves
reutilizáveis para o transporte de carga no espaço. As naves espaciais anteriores só podiam ser usadas uma vez e depois
tinham que ser descartadas. O primeiro vaivem espacial, o Columbia, foi lançado
em 1981. Um ano depois, o Challenger foi lançado como o segundo vivem espacial
da frota dos EUA. Seguiram-se o Discovery, em 1983, e o Atlantis, em 1985. O
Challenger tinha voado nove missões bem-sucedidas antes do desastre fatídico,
em 1986.(4)
As
razões da explosão eram complexas. O Dr. Richard C. Cook, analista do governo
federal, na NASA, testemunhou no Congresso, na época, sobre os anéis de vedação
(O-rings) defeituosos que foram a causa inicial da explosão. Depois de se aposentar do
serviço público, Cook explicou a verdadeira causa da tragédia do Challenger:
A mistura de prioridades civis e militares
pela NASA conduziu ao desastre da Challenger, em 31 de Janeiro de 1986, um
incidente que mostrou como os motivos confusos e a falta de franqueza nos
programas públicos podem resultar em tragédia.(5)
Cook,
cuja posição na NASA era de Auditor Financeiro do Gabinete de Corregedoria da
NASA, incluindo os propulsores de foguetes sólidos do vaivem espacial, revelou
os factores internos e externos:
Em 9 de Fevereiro de 1986, quase duas
semanas após a perda do Challenger, o New York Times publicou uma série de
documentos explosivos, incluindo um memorando que escrevi no mês de Julho
anterior - e que partilhei com o repórter de Ciência do Times, Phil Boffey -
alertando para uma possível catástrofe devido a uma junta defeituosa. Assim
começou uma cascata de divulgações que incluiu o relato de como os engenheiros
contratados protestaram contra o lançamento em tempo frio e o conhecimento
prévio da NASA dos impulsionadores de selagem deficiente, do foguetão.
Mas foi só depois da comissão presidencial
que investigou o desastre, concluir o seu trabalho que eu descobri por que
razão a NASA continuava com as missões de voo do vaivem espacial depois do pior
dano ocorrido até hoje, na selagem durante um vôo ocorrido em tempo frio, em Janeiro
de 1985, precisamente um ano antes do Challenger explodir. Foi porque um
critério de lançamento para uma junta de temperatura poderia interferir nos vôos
militares que a NASA planeava lançar para a Força Aérea, na base da Força Aérea
de Vandenberg, na Califórnia, onde o clima costumava ser mais frio do que na
Flórida. Muitos desses vôos foram para realizar experiências do programa 'Star
Wars' em preparação para uma possível instalação futura, de armas nucleares da
'terceira geração', como o laser de raios-x. (6)
A
revelação feita por Cook sobre a militarização da NASA desde meados da década
de 1980, em ligação à 'Guerra das Estrelas' de Reagan, era suficientemente
sinistra. Isso significava que os militares dos EUA violavam secretamente os
compromissos do Tratado e já tinham iniciado uma corrida armamentista no Espaço
durante os anos 80. Não havia outro alvo imediato ou óbvio, a não ser o arsenal
nuclear da União Soviética.
No
entanto, a tragédia do Challenger resultou na suspensão de mais testes de armas
no Espaço até 2006. Então, numa declaração pouco notada, em Outubro de 2006, a
Administração Bush-Cheney-Rumsfeld mudou tudo isto e a militarização do Espaço,
que Putin tinha avisado no seu discurso de Fevereiro de 2007, em Munique,
desenvolveu um novo componente alarmante.
Como
Richard Cook especificou:
Até hoje, o principal beneficiário do
programa Lua-Marte é a Lockheed Martin, à qual a NASA concedeu um contrato
principal com um valor potencial declarado de 8,15 biliões de dólares. Já
considerado o maior contratado de defesa do mundo, as acções da Lockheed Martin
renderam uma riqueza instantânea, subindo mais de sete por cento(7%) nas cinco
semanas após o anúncio da NASA, em Agosto de 2006.
A NASA não está a pagar ao gigantesco complexo
industrial militar 8,15 biliões de
dólares para ter pessoas a pular e a jogar bolas de golfe na Lua. O objectivo
do programa Lua-Marte é o domínio dos EUA, conforme sugerido pelas declarações
do Administrador da NASA, Michael Griffin de que 'o meu idioma' - isto é, o inglês
- e não o de 'outra cultura, mais ousada ou mais persistente, será transmitido
ao longo de gerações às colónias lunares do futuro’.
O primeiro passo será uma colónia no pólo
sul da Lua, descrito pela NASA, num anúncio, em Dezembro de 2006. De acordo com
Bruce Gagnon, da Rede Global Contra Armas e Energia Nuclear no Espaço, 'No
final, o plano da NASA de estabelecer bases permanentes na Lua ajudará os
militares a controlar e dominar o acesso, dentro e fora do planeta Terra e
determinar quem extrairá recursos valiosos da Lua, nos próximos anos.’
Os planos da NASA parecem estar um passo
atrás à perspectiva da Guerra Fria, o que a Estação Espacial Internacional
(ISS) deveria transcender e é contrária à sua missão original. A autorização da
NASA, de 1958 afirmava que . . . “as actividades no Espaço devem ser dedicadas a
fins pacíficos, em benefício da Humanidade.” Promover uma corrida do século XXI
aos postos avançados do sistema solar, que Griffin comparou à disputa armada
das colónias pelas nações europeias, não pareceria favorecer as metas
visionárias, para as quais a NASA foi criada.(7)
Numa
comunicação privada com este autor, Cook ainda foi mais alarmante:
Creio
que o ‘establishment’ dos EUA está, de facto, a planear ‘first strike’ nuclear
à Rússia. No entanto, existe uma profunda divisão entre as forças armadas dos
EUA, na medida em que o Exército, a Marinha e alguns elementos da Força Aérea
ainda vêem o seu trabalho como uma força defensiva para garantir a segurança dos
Estados Unidos. O elemento militar que visa a conquista do mundo, mesmo através
de um ‘first strike’ [nuclear], inclui os escalões mais altos da Força Aérea,
da Agência de Defesa Anti-Mísseis e da parte da liderança civil do Pentágono
mais alinhada às poderosas forças financeiras, que são os verdadeiros
governantes do país. (8)
Foi
uma alegação bastante pesada. As evidências descobertas, infelizmente, mostraram
que não era exagero.
Rumsfeld
Apoia a Defesa Anti-Mísseis
Em
Julho de 1998, numa época em que as ameaças de mísseis balísticos nucleares aos
Estados Unidos pareciam remotas, Donald Rumsfeld entregou ao Presidente Bill
Clinton, um relatório da Comissão para Avaliar a Ameaça de Mísseis Balísticos
aos Estados Unidos - da “Comissão Rumsfeld”.
O
Relatório da Comissão Rumsfeld descreveu aquilo que considerava o perigo
estratégico para os Estados Unidos:
Os esforços concertados de várias nações
hostis, para adquirir, abertamente ou por casualidade, mísseis balísticos com cargas
biológicas ou nucleares, representam uma ameaça crescente para os Estados
Unidos, para as suas forças destacadas e para os seus amigos e aliados. Estas
ameaças mais recentes e em desenvolvimento na Coreia do Norte, Irão e Iraque
são adicionais às ainda representadas pelos arsenais de mísseis balísticos da
Rússia e da China, nações com as quais não estamos em conflito agora, mas que
permanecem em transições incertas. As capacidades mais recentes dos países
equipados com mísseis balísticos não corresponderão às dos sistemas americanos
em termos de precisão ou segurança. No entanto, seriam capazes de infligir
grande destruição aos EUA dentro de cerca de cinco anos após a decisão de
adquirir essa capacidade (10 anos no caso do Iraque). Durante vários desses
anos, os EUA podem não ser conhecedores de que essa decisão foi tomada por esses
países.
A ameaça para os EUA colocada por essas
capacidades emergentes é mais ampla, mais madura e evolui mais rapidamente do
que foi relatado nas estimativas e relatórios da Comunidade de Inteligência/Serviços
Secretos.(9)
O
que era notável era que isto aconteceu em 1998 - três anos antes dos
acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, e Donald Rumsfeld e outros
conselheiros experientes dos EUA já tinham como alvo o Iraque, o Irão e a Coreia
do Norte, o trio mais tarde nomeado pelo Presidente Bush como o 'Eixo do Mal.'
Também
notável era o facto de que Rumsfeld ter sido adicionado à comissão de nove
membros, por dois dos guerreiros neoconservadores mais vocais de Washington:
Paul Wolfowitz, que se tornaria o Vice Secretário de Defesa de Rumsfeld e o
principal arquitecto da guerra dos EUA no Iraque; e o antigo chefe da CIA, James Woolsey, que
chefiou a Freedom House, a ONG obscura ligada à comunidade de inteligência/serviços
secretos dos EUA e activa nas 'Revoluções Coloridas' da Geórgia até à Ucrânia.
A
escolha de Rumsfeld para Director de Equipa da Comissão Rumsfeld foi o Dr.
Stephen Cambone, um falcão neoconservador que redigiria secções importantes do
Projecto para um Novo Século Americano, de Setembro de 2000 - Reconstruindo as
defesas da América. O relatório da PNAC,
além de pedir a intervenção dos EUA para a mudança de regime no Iraque um ano
antes dos ataques de Setembro de 2001, também pedia, que os EUA desenvolvessem
tecnologias de guerra biológica étnica e racial. Muitos dos autores do
relatório - incluindo Dick Cheney, Wolfowitz, Cambone e Rumsfeld – continuaram
implementar as suas recomendações dentro da Administração Bush, após o 9/11 (11
de Setembro de 2001).
Em
8 de Maio de 2003, Rumsfeld nomeou Cambone, Subsecretário de Defesa para a
Inteligência, uma nova posição que o Secretário de Defesa Adjunto, Paul
Wolfowitz, descreveu assim: “O novo departamento está encarregado de todas as
funções de supervisão e orientação política e de inteligência relacionadas com
a Inteligência/Serviços “ Secretos.” (10)
Na
prática, significava que Cambone
controlava a Agência de Defesa da Inteligência/Defense Intelligence Agency, a
Agência de Imagem e Mapas Nacionais/National Imagery and Mapping Agency, a
Organização Nacional de Reconhecimento/ National/Reconnaissance Organization, a
Agência de Segurança Nacional/National Security Agency, o Serviço de Segurança
da Defesa/Defense Security Service e o Campo de Actividade de Contra Inteligência
do Pentágono/Pentagon's Counter-Intelligence Field Activity. . Cambone reunia-se
com os chefes dessas agências, bem como com altos funcionários da CIA e do
Conselho de Segurança Nacional, duas vezes por semana, para lhes dar as suas
ordens de marcha. (11)
No
auge da sua carreira no Pentágono, em 2005, segundo fontes bem informadas do
Senado, Cambone tinha poder e influência mais efectivos sobre o formato das
estimativas dos serviços
secretos/inteligência americanos que chegavam ao Presidente do que George Tenet
ou Condoleezza Rice, a então Conselheira da Segurança Nacional do Presidente.(12)
A
ascensão de Cambone ao poder tinha sido tranquila, quase desapercebida até o
escândalo de Abu Ghraib o forçar, brevemente, a ficar em destaque. Então, o seu
papel no avanço da inteligência fraudulenta usada para convencer o Congresso a
sancionar a guerra no Iraque - assim como o seu papel na alegada autorização de
tortura sistemática de prisioneiros em Guantánamo, Cuba e na prisão de Abu
Ghraib no Iraque - colocam Cambone desconfortavelmente em destaque. A sua purga
de quaisquer oponentes militares da sua agenda agressiva revelou mais a
público, qual era a verdadeira intenção da defesa anti-mísseis de Rumsfeld. Era
agressiva e ofensiva em extremo.(13)
Relatório Estratégico do
Pentágono para a Europa e para a NATO
Em
Dezembro de 2000, pouco antes de Donald Rumsfeld se tornar Secretário de
Defesa, o Pentágono divulgou um Relatório de Estratégia para a Europa e para a
NATO. O relatório continha uma secção sobre 'Defesa contra Mísseis de Teatro'/(Theater Missile Defense). Como
documento oficial de política do Departamento de Defesa dos EUA, merecia um
estudo cuidadoso. Declarava:
Defesa contra Mísseis de Teatro [de operações] : como parte de esforços mais amplos para
aumentar a segurança dos Estados Unidos, das forças aliadas e da coligação
contra ataques de mísseis balísticos e para complementar a nossa estratégia de
contra-proliferação, os Estados Unidos estão a procurar oportunidades para a
cooperação de TMD (Defesa de teatro) com
Parceiros da NATO.Os objectivos dos esforços cooperativos dos Estados Unidos
são fornecer uma defesa eficaz contra mísseis para as forças da coligação ...
contra mísseis de curto a médio alcance. No seu Conceito Estratégico, a NATO
reafirmou o risco representado pela proliferação de armas e mísseis balísticos NBC (Nuclear, Biológicos, Químicos) e a Aliança chegou a um acordo geral
sobre a estrutura para lidar com essas ameaças. Como parte do DCI da NATO, os
Aliados concordaram em desenvolver forças da Aliança que possam responder com
defesas activas e passivas a ataques NBC. Os aliados concordaram ainda que a
DTM é necessária para as forças destacadas da NATO.
…… A
Aliança está a realizar uma análise de viabilidade para uma arquitectura de
defesa em camadas. À medida que a ameaça de mísseis balísticos para a Europa
evoluir na direcção de longo alcance, a Aliança precisará considerar medidas
adicionais de defesa incorporando DTM de nível superior e/ou uma defesa contra
mísseis de longo alcance.(14)
O
documento do Pentágono voltou-se para a defesa anti-mísseis Continental dos EUA
e declarou:
Defesa Nacional contra Mísseis: Irão,
Iraque, Líbia e Coreia do Norte não precisam de mísseis de longo alcance para
intimidar os vizinhos; já têm mísseis de curto alcance para fazê-lo. Ao
contrário, querem mísseis de longo alcance para coagir e ameaçar países mais
distantes da América do Norte e da Europa. Presumivelmente, acreditam que mesmo
um pequeno número de mísseis, contra os quais não temos defesa, seria
suficiente para inibir as acções dos EUA de apoio aos nossos aliados ou
parceiros de coligação, numa crise.
Com base na nossa avaliação destas
tendências, os Estados Unidos concluíram que devemos combater essa ameaça antes
que um desses Estados tente ameaçar os Estados Unidos para proteger os seus
interesses, incluindo compromissos com os nossos aliados na Europa e noutros
lugares. Assim, os Estados Unidos estão a desenvolver um sistema NMD (National
Missile Defense) que protegeria todos os 50 estados de um ataque limitado de
algumas dezenas de ogivas. [Sic]
... Embora Moscovo argumente o contrário,
o sistema NMD limitado que os Estados Unidos estão a desenvolver não ameaçaria
a estratégia dissuasiva russa, o que poderia sobrecarregar a nossa defesa mesmo
que as forças estratégicas russas fossem muito inferiores aos níveis previstos
nos acordos estratégicos de redução de armas entre EUA e Rússia. ...
Depois,
o documento político do Pentágono de 2000 adicionou uma torção peculiar da
lógica:
O NMD que imaginamos reforçaria a
credibilidade dos compromissos de segurança dos EUA e a credibilidade da NATO
como um todo.
A Europa não estaria mais segura se os
Estados Unidos estivessem menos seguros contra um ataque de míssil por um Estado de relevância. Uma América menos vulnerável a ataques de mísseis
balísticos tem mais probabilidade de defender a Europa e os interesses comuns
de segurança ocidentais do que uma América mais vulnerável.
Em Setembro de 2000, o Presidente Clinton
anunciou que, embora a NMD fosse suficientemente promissora e acessível para
justificar o desenvolvimento e teste contínuos, não havia informações
suficientes sobre a eficácia técnica e operacional de todo o sistema NMD para
avançar com a instalação. Ao tomar essa
decisão, ele considerou a ameaça, o custo, a viabilidade técnica e o impacto na
nossa segurança nacional para prosseguir com a NMD. A decisão do Presidente
dará flexibilidade a uma nova administração e preservará a opção de instalar um
sistema nacional de defesa anti-mísseis no período de 2006 a 2007.(15)
A
Administração Clinton adoptou as recomendações principais do relatório
Rumsfeld-Cambone de 1998, sobre defesa de mísseis balísticos.
Em Julho de 2000, os Chefes de Estado da Rússia e da China emitiram uma declaração
comum sobre os planos dos EUA de construir a sua defesa anti-mísseis. A sua
declaração menciona, em parte,
... [O] programa dos EUA para estabelecer
a defesa nacional contra mísseis, um sistema proibido pelo Tratado ABM,
despertou sérias preocupações. A China e a Rússia sustentam que esse programa
visa, essencialmente, a busca da superioridade militar e da segurança
unilateral. Esse programa, se for efectuado, dará origem às mais graves
consequências negativas para a segurança não apenas da Rússia, da China e de
outros países, mas também dos próprios Estados Unidos e da estabilidade
estratégica global. Neste contexto, a China e a Rússia registaram sua oposição
inequívoca ao programa acima mencionado.(16)
Em
Maio de 2001, numa de suas primeiras declarações políticas importantes como Presidente,
George W. Bush declarou:
A Rússia de hoje não é nossa inimiga, mas
um país em transição com a oportunidade de emergir como uma grande nação,
democrática, em paz consigo mesma e com os seus vizinhos.
A Cortina de Ferro já não existe. A Polónia,
a Hungria e a República Checa são nações livres e agora são nossas aliadas na
NATO, juntamente com a Alemanha reunificada. No entanto, este mundo ainda é
perigoso; um mundo menos correcto, menos previsível.
Mais nações têm armas nucleares e ainda
mais têm aspirações nucleares. Muitas têm armas químicas e biológicas. Algumas
já desenvolveram uma tecnologia de mísseis balísticos que lhes permitiria
lançar armas de destruição em massa a longas distâncias e a velocidades
incríveis, e vários destes países estão a espalhar estas tecnologias pelo
mundo.
Mais preocupante, acima de tudo, é que a
lista destes países inclui alguns dos Estados menos responsáveis do mundo. Ao
contrário da Guerra Fria, a ameaça mais urgente de hoje não decorre de milhares
de mísseis balísticos nas mãos soviéticas, mas de um pequeno número de mísseis
nas mãos destes Estados - Estados para quem o terror e a chantagem são um modo
de vida.
Procuram armas de destruição em massa para
intimidar os vizinhos e impedir que os Estados Unidos e outras nações
responsáveis ajudem aliados e amigos em partes estratégicas do mundo. Quando
Saddam Hussein invadiu o Kuwait em 1990, o mundo uniu forças para controlá-lo. Mas a
comunidade internacional teria enfrentado uma situação muito diferente se
Hussein pudesse ameaçar com armas nucleares.
Como Saddam Hussein, alguns dos tiranos de
hoje são dominados por um ódio implacável contra os Estados Unidos da América.
Eles odeiam os nossos amigos, os nossos valores, a democracia, a liberdade e
liberdade individual. Muitos importam-se pouco com a vida de seu próprio povo.
Neste mundo, a dissuasão da Guerra Fria já não é suficiente para manter a paz, proteger os
nossos cidadãos, aliados e amigos.(17)
Os
comentários de Bush, proferidos seis meses antes de 11 de Setembro de 2001,
eram significativos em muitos aspectos, principalmente na revelação da falta
completa de sinceridade de Washington quanto às suas razões para continuar
agressivamente a Defesa contra Mísseis Balísticos.
O
Presidente insistia que o objectivo dos seus compromissos avolumados para
construir um escudo anti-mísseis dos EUA não era destinado à Rússia, mas sim aos
'terroristas' ou pequenos Estados 'desonestos', tais como Coreia do Norte, Irão
ou Iraque. Às vezes, a pequena nação da Síria era adicionada à lista do Eixo,
embora não existissem relatos de nenhum desses planos de mísseis sírios. De facto,
como os especialistas militares de Moscovo, até Pequim e até Berlim foram
rápidos a apontar, nenhuns 'terroristas' ou pequeno Estado desonesto tinha essa
capacidade de lançar mísseis nucleares.
Os
pormenores dos relatórios oficiais de política militar dos EUA demonstraram,
sem sombra de dúvida, que tinha sido a política deliberada e inflexível de
Washington desde o colapso da União Soviética, de maneira sistemática e implacável
- nas administrações dos três Presidentes dos EUA – esforçar-se para obter a
supremacia nuclear (destruição garantida unilateral) e a capacidade do domínio
militar global absoluto, aquilo que o Pentágono denominou como Full Spectrum Dominance/Domínio do Espectro Total.
Por que Razão, a Defesa
Anti-mísseis Agora?
Tornou-se
cada vez mais claro, pelo menos em Moscovo e Pequim, que Washington tinha uma
grande estratégia muito mais ameaçadora por trás de seus movimentos militares
unilaterais, aparentemente irracionais e arbitrários. O governo dos EUA tentou,
incessantemente, embora bastante mal, cultivar a impressão de que o seu
interesse pela defesa anti-mísseis havia sido motivado pela nova ameaça de
terrorismo após Setembro de 2001.
No
entanto, para o Pentágono e para o ‘establishment’ político dos EUA,
independentemente do partido político, a Guerra Fria com a Rússia, realmente nunca
terminou. Ela continuou de maneira disfarçada. Foi o que aconteceu com os Presidentes
G.H.W. Bush, William Clinton e George W. Bush. Os estrategas do Pentágono não
receavam um ataque nuclear ao território dos Estados Unidos, efectuado pelo Irão.
A frota de bombardeiros da Marinha e da Força Aérea dos EUA estava plenamente
preparada para bombardear o Irão, mesmo com armas nucleares, 'de regresso à
idade da pedra', por meras suspeitas de que o Irão estivesse a tentar
desenvolver tecnologia independente de armas nucleares. Estados como o Irão não
tinham capacidade de atacar a América - e muito menos torná-la indefesa - sem
arriscar sua própria aniquilação nuclear total. O Irão estava bem ciente desse
facto, podemos ter a certeza.
Os projectos de 'defesa
anti-mísseis' surgiram na década de 1980, quando Ronald Reagan propôs o
desenvolvimento de sistemas de satélites no espaço, bem como estações de escuta
de bases de radar e mísseis interceptores ao redor do mundo, todos projectados
para controlar e abater mísseis nucleares antes de atingirem os alvos
pretendidos.
Foi
denominado “Guerra das Estrelas” pelos seus críticos, mas o Pentágono gastou
oficialmente mais de 130 biliões de dólares no desenvolvimento do sistema,
desde 1983. George W. Bush, a partir de 2002, aumentou esse montante
significativamente para 11 biliões de dólares por ano. Foi o dobro do valor
concedido durante os anos Clinton. E foram orçamentados 53 biliões de dólares
para os cinco anos seguintes, excluindo os biliões não revelados que estavam
a ser desviados para a defesa
anti-mísseis através de orçamentos secretos e inexplicáveis, da 'caixa preta' do
Pentágono.
O
alvo da Guerra das Estrelas, do Pentágono, não era o Irão, nem mesmo a Coreia
do Norte. Era a Rússia - a única potência nuclear à face da Terra, que
atrapalhava o domínio militar total do planeta pelos EUA. Essa foi a mensagem
clara que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, transmitiu em Munique, a uma
imprensa mundial chocada, em Fevereiro de 2007. (18)
Notas de Rodapé:
2 Conversation in Moscow in May
1994 between author and the Director of Economic Research of the Russian
Institute for International Strategic Studies (IISS).
5 Richard C. Cook, Op. Cit.
6 Ibid. 7 Ibid.
8 Richard C. Cook, in private
correspondence with the author, March 24, 2007. ~
11 Ibid.
13 Ibid.
15 Ibid.
A seguir:
CAPÍTULO SETE
A Obsessão Nuclear de Washington
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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