MARTIN LUTHER KING E A BOMBA
Por David Krieger|15 de Janeiro de 2019
Martin Luther King, Jr. foi um dos grandes líderes a favor da paz no mundo. Como Gandhi antes dele, foi um firme defensor da não violência. Em 1955, com 26 anos de idade, foi o coordenador do boicote ao autocarro de Montgomery e dois anos depois, foi eleito dirigente da Southern Christian Leadership Conference. Decorrida uma década, receberia o Prémio Nobel da Paz aos 35 anos, que aconteceu dois anos depois dele testemunhar as perspectivas aterrorizantes da guerra nuclear, durante a Crise dos Mísseis de 1962, em Cuba.
O discurso de King, ao receber o Prémio Novel, entregue em Dezembro de 1964, vale a pena ser lido novamente. Ele comparou o avanço tecnológico da Humanidade com o nosso progresso espiritual e constatou o nosso fracasso em manter o ritmo espiritual. Ele disse: “Há uma espécie de pobreza de espírito que está em contraste flagrante com a nossa abundância científica e tecnológica. Quanto mais ricos nos tornamos materialmente, mais pobres nos tornamos moral e espiritualmente. Aprendemos a voar no ar como pássaros e a nadar no mar como peixes, mas não aprendemos a maneira simples de vivermos juntos, como irmãos”.
A enorme lacuna entre o avanço tecnológico da Humanidade e a sua pobreza espiritual levou King a concluir: “Se quisermos sobreviver hoje, devemos eliminar o nosso 'atraso' moral e espiritual. O poder material ampliado significa um perigo agravado, se não houver um crescimento proporcional da alma. Quando o "exterior" da natureza do homem subjuga o "interior", começam a formar-se nuvens negras” no mundo". Ele descobriu que o “atraso” espiritual da Humanidade se exteriorizava através de três problemas correlacionados: injustiça racial, pobreza e guerra.
King chegou à seguinte conclusão: “De alguma forma, devemos transformar a dinâmica da luta do poder mundial da corrida armamentista nuclear negativa, que ninguém pode vencer, numa disputa positiva para aproveitar o génio criativo do Homem, com a finalidade de tornar a paz e a prosperidade numa realidade para todas as nações do mundo. Resumindo, devemos converter a corrida armamentista numa “corrida pela paz”. Se tivermos vontade e determinação para construir a ofensiva de paz, abriremos portas até então bem fechadas e transformaremos a nossa a poesia cósmica, triste e imediata, num cântico de realização criativa."
Um ano antes do dia do seu assassinato, em 4 de abril de 1968, King fez um discurso na Igreja Riverside, em Nova York, atravé do qual foi profundamente crítico em relação à guerra no Vietnam. Muitos dos seus conselheiros próximos insistiram para que ele não falasse e, em vez desse tema, mantivesse a sua atenção focada no movimento pelos direitos civis, mas ele sentiu que havia chegado a hora em que o silêncio é traição e escolheu declarar abertamente a sua posição. Abordou a Guerra do Vietnam dentro do contexto da sua visão moral e falou contra ela para grande descontentamento de Lyndon Johnson e muitos outros dirigentes políticos americanos. Além de falar sobre a guerra, também disse que as armas nucleares nunca derrotariam o comunismo e pediu que recordenássemos as nossas prioridades para lutar a favor da paz em vez da guerra. Ele argumentou: "Uma nação que continua, ano após ano, a esbanjar mais dinheiro com a defesa militar em vez de fomentar programas de elevação social, está a aproximar-se da morte espiritual".
Se ele ainda estivesse connosco, pode haver poucas dúvidas de que King seria um crítico convincente das guerras contínuas dos Estados Unidos, desde o Vietnam até há data e do plano de desbaratar 1 trilião de dólares para modernizar o arsenal nuclear. Desde a sua morte, o fosso entre o nosso avanço tecnológico e os nossos valores espirituais/morais continuou a alargar. Se quisermos ter ainda alguma possibilidade de sair da espiral decadente que conduz à “morte espiritual” da nação americana, é aconselhável escutarmos a presciência (conhecimento prévio do futuro) que King intuía, e seguir a sua visão de paz.
David Krieger é um dos fundadores da Fundação para a Paz na Era Nuclear e é o presidente desta instituição, desde 1982.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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